Quando paro de pensar em mil e uma coisas, de refletir acerca de coisas sem qualquer interesse prático pelo menos numa realidade a curto prazo, então começo a ouvir o eco... Um eco que não perde sílabas. Não perde nada das suas palavras duras. Durante todo o dia ignoro a voz dentro da minha cabeça que me tenta guiar e quando finalmente estou demasiado cansada para preencher a cabeça com coisas sem sentido, oiço.
Oiço a recriminação, a dor e os remorsos, ouço a vontade de chorar, ouço os gritos reprimidos, ouço a fúria aprisionada numa pequena jaula no fundo do meu cérebro. Ouço tudo. Oiço os erros, oiço as atitudes erradas e as que acredito serem certas, oiço os meus pesadelos e oiço aquilo que menos quero ouvir: as memórias dolorosas que dou de alimento à fúria enjaulada como forma de as tentar fazer desaparecer... A fúria vai definhando porque as memórias se recusam a alimentá-la. As memórias boas que doem mais do que as más... A saudade que me faz sentir revolta comigo própria simplesmente por a sentir. Oiço tudo isto, e dói-me a cabeça, dói-me a alma de pensar que nada vai ser como dantes e de pensar que não me lembro se quero ou não voltar atrás.
O meu grilinho falante tira-me o sono, mas é graças a ele que não sou o pinóquio...
O meu grilinho falante tira-me o sono, mas é graças a ele que não sou o pinóquio...



